sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Enfim, dois poemas a compartilhar...


Estamos de volta, o poeta vive… e está faminto!


Por mais surpreendente que me possa parecer, num ano em que todas as previsões do tempo anunciavam 365 dias de tempestades implacáveis, consegui escrever dois belíssimos poemas:


  • La Misión Brasil 80k/5.300m D+ | 16h15'30" - 18° geral

  • - Paraty Brazil by UTMB 110k/4.800m D+ | 13h54'07" - 9° geral


Se foram boas performances, dignas de nota em nível nacional? Não, definitivamente, não. Foram "apenas" belos poemas… aos quais sinto um orgulho profundo por tê-los escrito.

Em termos de performance, minhas duas últimas provas (únicas neste ano, até então) foram um fiasco total. Agora, em termos de poesia, ah, meus amigos: obra-prima!


É incrível como algumas vitórias pessoais, as quais somente nós podemos mensurar e reconhecer como tal, nos parecem muitas vezes bem maiores que as vitórias de reconhecimento geral, em que recebemos troféus e medalhas.


De todo coração, levando em consideração todo o contexto de cada prova, o que realizei na La Misión este ano, e agora, mais recentemente, na Paraty Brazil by UTMB, para mim, foram feitos tão fantásticos quanto minha vitória na One Hundred 100 milhas ano passado. 


Todas as minhas performances esportivas são poemas, mas nem todos os meus poemas obtiveram relevantes performances esportivas. Eu não corro, eu escrevo poemas, alguns merecem troféus, outros apenas lágrimas.


E, "para não dizer que não falei das flores" (colhidas nos campos de batalha), compartilharei nos próximos dias o relato de ambas as provas.


A La Misión (minha preferida entre as preferidas) foi uma experiência única!

Por conta de uma lesão na região póstero/adutora da coxa direita, envolvendo inserções no púbis e ísquio, eu não estava podendo correr, nem mesmo pedalar ao ar livre, somente indoor, no rolo (e como pedalei!). Caminhar podia, mas pouco e com muita cautela. No entanto, não queria ficar fora da festa por nada! Sobretudo na edição inaugural do percurso contendo a Travessia completa da Serra Fina. Assim, decidi competir com o que tinha: faria a prova toda hikeando…


A Paraty Brazil foi uma decisão de última hora. Pós La Misión eu já conseguia não só hikear, mas também incrementar alguns treinos trotando. Ainda assim, a maior parte do treinamento consistia na bike indoor. O volume de corrida e hiking que eu tinha para encarar os 110k era absolutamente ridículo! Mas a melhora da lesão era perceptível, e como também não queria ficar fora de mais essa grande festa do nosso esporte, lá foi o poeta louco e seus bastões  de bambu, para mais uma batalha nas montanhas, escrever os seus poemas de suor e lágrimas…


Em breve relatos completos.


time to reign again | like a wild horse

terça-feira, 28 de dezembro de 2021

Cambotas Marathon 45k, 2.500m D+ - Relato (sensações e impressões)

Se a Mons foi a prova que marca o meu renascimento, Cambotas é a prova que renova, com toda a potência da aurora, o meu encantamento por este esporte.

Em termos de performance (desde a Mons) ganhei altura até o início de Novembro na UT Rota das Águas, e de lá para Cambotas me segurei como pude, mas não consegui elevar-me mais, nem mesmo manter-me no patamar onde estava.

Viajei para Barão de Cocais muito aquém do que esperava, mas não se enganem, isto não significa que estava tão mal assim, as metas é que a partir deste ano estão bem mais elevadas! Os parâmetros é que agora são outros.


Imaginava que um TOP 20 em Cambotas já seria um bom resultado. Um TOP 10 seria fantástico! Mas houve um momento durante a preparação para esta prova em que me senti tão confiante, tão poderoso, tão capaz, que cheguei a pensar de verdade que havia a possibilidade de vencer.


No entanto, às vésperas da prova o sentimento era bem outro. A confiança havia desaparecido, e tive medo. Tanto, que cogitei até mesmo não viajar.

No fim, acabei decidindo ir de qualquer forma, não poderia perder esta oportunidade por nada. E, como "não há nada escrito", o treinamento estava concluído, e eu ainda tinha uns bons dias de descanso pela frente, viajei. 


Chegamos na quinta, descansei muito! Na sexta já estava um pouco mais confiante, e na manhã da prova acordei bem disposto. Parecia que tudo havia ido para o seu devido lugar, estava leve, sentindo as pernas "soltas". Era a sensação que faltava para largar com a cabeça tranquila.


Ao chegar na arena da prova não havia mais nenhuma tensão, estava totalmente concentrado, procurando reforçar a mim mesmo, mentalmente, para que não errasse o ritmo: "não erre o ritmo, não erre o ritmo, não se empolgue...", repetia sem parar.

Com o startlist mais pesado da história do Trail Nacional, este seria fatalmente o erro mais fácil de se cometer, não há a menor dúvida.

No curral de largada, para evitar qualquer empolgação, posicionei-me bem mais atrás, algo que não costumo fazer.


Contagem regressiva: 10, 9, 8..., e a cavalaria disparou! como já era de se esperar. Passei o km 2 por volta da 50a posição aproximadamente, atrás de pelo menos umas dez mulheres. Nunca antes numa prova trail tive tanta gente à minha frente!


Mas estava tranquilo, apenas concentrado em encaixar um ritmo confortável. No km 4, finalizando a parte de estradão, encontrei a Lili e minha irmã: "37°, Dani! 37°!", ouço a Lili gritar.


Na primeira descida em trilha, mesmo cauteloso e com medo de que pudesse acontecer o mesmo que me aconteceu no Desafio Raiz Tapera três semanas antes (onde tive um colapso em ambos os vastos laterais das coxas com contrações lancinantes que me obrigaram a abandonar a prova), senti uma leve fisgada no vasto lateral da coxa esquerda, uma dor sutil, mas bastou para me pôr em alerta. 


Os primeiros segmentos de trilha já eram bem técnicos! Eu estava louco pra descer com tudo, mas tive de me conter bastante e, mesmo me segurando, as fisgadas só pioravam. Neste momento já sentia dores em todo o quadríceps esquerdo. A sensação era de que a qualquer momento em alguma descida, numa passada de maior impacto, a coxa travaria por completo ou algum músculo se romperia. Nada comparável ao que senti na Raiz Tapera, apenas o mesmo princípio e somente em uma das coxas.


Apesar de tudo pude continuar - em bom ritmo, até! - mas não havia outro modo, nas descidas tinha de ir muito mais defensivo do que costumo descer.


Fiquei bem preocupado, sim, mas não perdi a calma e simplesmente aceitei que teria de lidar com o problema da melhor forma possível. Para minha surpresa, continuei ultrapassando diversos atletas, até mesmo caras que eu acreditava poderem brigar pelas primeiras posições. 


Não me recordo de todos os amigos e conhecidos que ultrapassei mas o primeiro de que me lembro foi o Roger, bem no início da prova ainda (km 6). Em seguida o Vicente (km 7). Poucos minutos após ultrapassá-lo, ainda "brigando" com a coxa esquerda e administrando a prova como podia, cometi um erro imperdoável.


Afundei a perna inteira dentro de um córrego estreito, aparentemente raso, que na verdade se mostrou uma vala profunda onde sequer alcancei o fundo. Caí de mal jeito, todo errado: a perna dentro da vala, o braço direito tendo ficado para fora, torcido. 

Ouvi um estalo no ombro e no mesmo instante soltei um grito de dor. O braço inteiro amoleceu. Na hora achei que tivesse quebrado, não conseguia usar o bastão apenas carregá-lo, com o braço pendido junto ao corpo. 


Tudo aconteceu muito rápido, fui fazendo algumas tentativas de uso dos bastões novamente e o ombro foi melhorando, até me permitir utilizá-los quase com eficiência máxima, mas era preciso evitar certos movimentos.


Mesmo com todas estas desventuras em série eu continuava bem posicionado e ganhando terreno. Com a coxa e o ombro sob controle segui firme e concentrado em minha caçada. Não sabia exatamente em que posição estava, mas quando ultrapassei o Picinin e mais adiante o Carius, imaginei que já não deveria estar tão distante assim do TOP 10. 


A corrida já se aproximava da metade quando ultrapassei o Jovadir, nitidamente em dificuldades, em seguida o Santiago e logo na sequência um outro atleta que eu não conhecia. Abri um gap razoável de quem vinha atrás e à frente não avistava ninguém. Pela primeira vez na prova fiquei sozinho. Percorri uns bons quilômetros até conseguir avistar, ao longe, alguns atletas. Não identifiquei quem eram e só fui alcançá-los próximo aos 15 km finais. Os caras da frente eram o Cleverson e o Celinho. O primeiro por quem passei foi o Cleverson, cambaleando, e alguns quilômetros depois o Celinho (branco feito cera!), sentado numa pedra no início de uma subida.


Eu sabia que vinha fazendo uma prova bem consistente, sem quebras, progressiva. Mas confesso, com toda sinceridade, que em nenhum momento senti estar performando bem, muito pelo contrário, não entendia como podia estar tão bem posicionado se não estava conseguindo ser tão rápido. No entanto, não havia dúvida alguma de que estava, sim, fazendo uma grande prova!


No alucinante e inesquecível downhill pela borda da cachoeira, faltando uns 7 km, ainda ultrapassei mais um atleta, alcançando a 8° colocação. Do alto ainda pude avistar o Caio (7° colocado) entrando na mata, mas já não tinha força suficiente para buscar mais ninguém, apenas sustentar e defender todo o trabalho realizado até ali. A maior "caçada" de minha vida havia chegado ao fim. 


Durante os 5 km finais de descida em estradão, quase não conseguia acreditar no que estava para se concretizar… Na maior disputa do trail nacional de todos os tempos, onde muitos dos grandes nomes sucumbiram, eu estava - "há dois passos do Paraíso..." - prestes a cruzar a linha de chegada na 8a colocação.


E cruzei... mesmo sem muita convicção de que o que estava acontecendo não era um sonho… cruzei o Portal Mágico da Cambotas Marathon entre os dez primeiros colocados.


Desde então, estou no céu. Desço só em 2022!


Mas sabem o que permanece em mim, martelando em minha cabeça, além da vontade imensa de retornar à Cocais para correr a Cambotas Marathon ano que vem?


A convicção de que posso correr abaixo do tempo do Chico (2° colocado com 5h14'). 

Mas e do tempo do Silvestrin? Bom, tudo no seu momento, primeiro o Chico, depois… (rsrs).


Ah, quanto trabalho pela frente! Transformar todas estas palavras vãs, tão fáceis de serem proferidas, toda essa audácia e prepotência, em FATO!


Mãos à obra! 

Serei capaz de convertê-la em Obra Prima? Em uma MAGNUM OPUS?


Ah, quanta felicidade, quanto deslumbre e encantamento derivado de coisinhas tão bobas, tão pequenas, tão insignificantes! Isto não vos comove, meus amigos? Pois a mim, sim!


"Corrida de Montanha", "A maior disputa do Trail Nacional", "TOP 10", "Ranking ITRA", "Performance", "Vitória", "Competiçao", "Obra Prima" - Não passam de joguinhos! Tudo isto que hoje me é tão caro, a que me entrego de corpo e alma gastando cada grãozinho de areia de minha ampulheta, não vale mais que aquelas corridinhas despretensiosas que apostávamos quando crianças, brincando na rua com os amiguinhos na frente de casa. Tudo isto é NADA! E todo este nada é TUDO!


Crescemos, senhoras e senhores, nos tornamos adultos, mas continuamos a brincar e a inventar brincadeiras que nos divirtam e inundem de prazer! Continuamos sendo aqueles mesmos pequenos insaciáveis Buscadores de Prazeres de outrora.

E se hoje encaro tudo a que me dedico com tanta "seriedade" - como se fossem as coisas mais importantes do mundo - é porque para mim, meus amigos, para mim - BRINCADEIRA sempre foi, é, e será - coisa muito séria!


O que seria a Vida em si, em sua essência, não fosse tudo que inventamos, tudo que criamos, todos os significados que atribuímos a ela, toda a poesia com a qual lhe pintamos? Não seria a Vida, assim, um Tédio Supremo, uma tela em branco, qualquer coisa sem nexo, sem cheiro, sem sabor... não fossem todas as nossas insignificâncias? Que sentido haveria, não fossem os sentidos que criamos?


Brinquemos, pois! 

Brinquemos à exaustão! 

Até que chegue a derradeira noite,

Impondo-se.


Baixando as cortinas 

De nossas pálpebras esgotadas, 

Encerrando, para sempre, 

O Espetáculo.


Que as brincadeiras deste Dia breve, Dia imenso... nos proporcione a todos os mais belos sonhos…


Daniel Meyer


time to reign | like a wild horse


Praia da Tainha,

28 de Dezembro

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Cambotas Trail Fest 2021 - Primeira edição

Cambotas, uma nova era? Exagero? Sem dúvida um marco. Um importantíssimo divisor de águas para as Corridas de Montanha no Brasil. Um presente! Um verdadeiro presente para o nosso esporte.

E o sentimento que permanece e faz minha mente viajar longe nos pensamentos, é o de uma alegria imensa em ter tido o privilégio de fazer parte desta grande festa. 

Na verdade, bate até uma pontinha de arrependimento por não ter conseguido aproveitar tudo que nos foi oferecido, com tanto cuidado e carinho, desde o primeiro dia de evento. Fica um certo remorso, não posso negar, em não ter conseguido me hospedar bem pertinho à arena da prova e poder abraçar mais, conversar mais, interagir mais... Ou apenas poder sentar-me no meio fio, no coreto, ou à sombra de uma árvore e observar todo o trabalho apaixonado dos organizadores, colaboradores e a interação entre os atletas, como quem assiste, grato e emocionado, a um belíssimo espetáculo.


Sou um homem solitário, mes amis, quem aqui vos escreve possui espírito de ermitão, não se enganem. Um filho das cidades, nascido entre a multidão, civilizado, mas crescido e maturado na solidão e silêncio de uma caverna no costão, longe dos homens, na companhia das pedras, e que com elas, as pedras, aprendeu a amar a humanidade.


Não costumo sentir prazer em estar nas multidões, nas festas cheias de gente e ambientes saturados de pessoas. No entanto, é incrível como me sinto, sempre, profundamente bem em estar no furacão de gente que envolve uma Corrida de Montanha.


Prevalece, nestas ocasiões, o sentimento de irmandade ("não estou só"). Estar entre tanta gente com ao menos uma grande paixão em comum, sempre me comove…

E se ainda permanecemos aqui, todos juntos, girando ao redor desta estrela de quinta grandeza na aridez do espaço infinito, não é porque temos todos nós (sem exceção), homens e mulheres, ao menos - uma - grande paixão em comum?


Sim, eu sei que já me perdi e o texto tomou um rumo próprio ao qual não me propunha de início. Mas não foi exatamente para poder me perder à vontade e dis(correr) louca e apaixonadamente na direção que me apetecer, que criei este espaço e estou escrevendo aqui e não em outro lugar?

De qualquer forma, leitores mais sutis saberão que não derivei do assunto tanto quanto possa aparentar à primeira vista. 


Mas, retornemos à Cocais, à Cambotas, não apenas uma prova trail, mas um Festival! Um Festival repleto de atrações e, é claro, Competição! Uma competição espetacular! Com uma paisagem cênica, surreal, digna de "Senhor dos Anéis", com um percurso extremamente técnico, reunindo boa parte da Elite do Trail Nacional num único percurso. Um grande encontro, sem precedente.


Em quase duas décadas de esporte, nunca havia presenciado nada igual. Talvez, o mais próximo que já se chegou do que foi o Festival de Cambotas, tenha sido a FACCAT Trail Run, em Taquaras no Rio Grande do Sul. Com uma proposta muito parecida em praticamente todos os aspectos, com exceção de um: o percurso da prova. No quesito percurso, levando em consideração a relação beleza/dificuldade técnica, com exceção das provas realizadas na Serra Fina, não há o que se compare à Cambotas.


Apenas mais um ponto a destacar, quanto a marcação do percurso, e um último pedido à fazer:


Não tive maiores dificuldades em seguir o caminho correto durante toda a prova, mas confesso que em vários pontos me senti desconfortável, achando que pudesse estar errando o caminho. Houveram várias mudanças bruscas de direção com marcação muito deficiente. Onde qualquer corredor mais distraído ou cansado, seguramente teria errado o caminho, mesmo que por poucos metros. Eu, como diretor de percurso, não teria tido a coragem de ter deixado a marcação tal como estava, sem algum staff ou uma marcação com fitas mais reforçada nesses pontos.


Com relação aos pontos de maior exposição e mais perigosos da prova, eu suplico:


Não mexam em nada! Não facilitem nada! O percurso está perfeito! 

Se tiverem que fazer algo, que seja apenas orientar os staffs para que alertem os corredores em cada segmento de maior exposição. 


Parabenizo os organizadores pela postura e ousadia em manter um percurso deste nível. Vendo as provas de Skyrunning na Europa, sempre me perguntava, "quando alguém no Brasil terá coragem de entregar um percurso com esse grau de exposição?" 

Bom, enfim este dia chegou, a revolução aconteceu, está entregue! 


O relato detalhado de minha participação e a análise de minha performance, deixarei para uma próxima publicação. Para encerrar, aproveito apenas para falar um pouco mais do percurso.


Estudei bem a prova (de longe) e já esperava um percurso que me favorecesse, mas foi muito, muito melhor do que eu pude imaginar. E quando digo melhor, quero dizer melhor para mim! (rsrs). Ou seja, quero dizer que o terreno exigiu um componente técnico ainda mais elevado do que eu supunha. Com exceção dos primeiros 4 e últimos 5k, sem receio de estar exagerando, diria que todo o restante da prova o Filipe Madeira (idealizador do percurso), mesmo sem me conhecer, desenhou tudo especialmente para me presentear! (rsrs). E que presente! Foi um deleite só correr nestas trilhas, pura poesia…


Mas se a prova era assim, "tão para mim", porque não fui melhor? Porque apenas uma oitava colocação?


Bom, em primeiro lugar, eu não diria "apenas" oitavo, tenho mais orgulho desta colocação do que todas as provas que já venci, juntas! Nunca havia corrido, até então, uma prova onde consegui lidar e administrar tão bem, tantas adversidades ao mesmo tempo. Foi também minha melhor prova de recuperação até hoje, passando o km 2 por volta de 50° colocado, precisamente 37° no km 4, para concluir em 8°.

Em segundo lugar, diria que acontecem muito mais tempestades e tormentas no coração de um poeta do que seria capaz de suportar um atleta.

Mas isto, é assunto para um outro dia.


Por hora, me limito a continuar aplaudindo de pé e agradecendo o presente, o espetáculo, tão bem orquestrado que nos foi oferecido.


A todos os envolvidos na idealização e realização do Cambotas Trail Fest, o meu mais sincero obrigado, senhoras e senhores, muito obrigado.

O nosso esporte agradece.



time to reign | like a wild horse

Praia da Tainha,

24 de Dezembro de 2021

terça-feira, 21 de dezembro de 2021

O Leão e seu Domínio (segundo rugido - definitivo)

Antes de escrever qualquer coisa sobre Cambotas e iniciar a escalada de 2022, preciso cumprir um importante e último trabalho (e porque não dizer, hercúleo?). Aqui e agora, ainda neste estranho, extremo, extraordinário ano de 2021. Que translação, meus amigos! Que viagem, que volta foi essa ao redor desta "imensa massa incandescente"!

Mas que tarefa é esta, tão necessária, tão pesada, tão urgente?

Destruir, empunhando meu próprio martelo (não o de Nietzsche), forjado em minha própria oficina, este último "Dever Moral" em forma de grilhão, nesta mesma oficina produzido, com o qual aprisionei-me:

Extirpar de minha pele, não sem alguma dor, trazendo consigo um pouco de sangue e carne (tamanha a aderência!), o status, a marca, o símbolo, o rótulo de atleta vegano.

Era isto, apenas isto. E isto, não exigiria uma publicação, não fosse o fato de eu ter, há muito, me tornado uma figura pública (mesmo que insignificante) e assumido a postura de promotor deste Movimento.

Sendo assim, em respeito à importância do Movimento e àqueles que o compõem, esta publicação presta-se bem a esclarecer, de uma só vez e ao maior número de pessoas, que: 

NÃO TENHO MAIS NENHUM VÍNCULO COM O VEGANISMO 

Não sou mais aquilo que era, sou outra coisa. Não me perguntem o que!

Mas qual a justificativa, qual o argumento para deixar de ser vegano?

Nenhum, apenas estar livre de todo "tu deves", mesmo que imposto por mim mesmo, inclusive o de ter de elaborar argumentos e encontrar justificativas.

A mim, este passo apenas apresenta-se como tarefa esssencial para alcançar a espécie de liberdade a qual almejo e necessito.

Costumamos dizer, quando realizamos algo de que nos orgulhamos, "Eu fiz isto, Eu fiz aquilo", com forte ênfase no "Eu"! Já, quando é o oposto e fazemos algo de que nos envergonhamos, procuramos esconder tanto quanto possível aquele mesmo "Eu", inventando desculpas como, "Saí de mim". Inventamos, miraculosamente, um "outro" para culpar, que se apossa de nós e nos faz refém.

Quanto a mim, quero aprender a assumir tudo. Antes, me orgulhava em ser vegano, hoje não posso dizer que há qualquer espécie de orgulho em não sê-lo. Não, não posso dizer que sinto orgulho pela sujeira de minha água, mas há, sim, um certo orgulho em ser capaz de deixá-la à mostra.

O que restou, então, para admirar?

Nada, não resta nada… exceto,

O corpo, nu
A chama, ardendo
Abarcando em si 
Todo o mal 
Que queima e machuca
Todo o bem 
Que aquece e conforta

Toda a beleza, ainda
Para quem beleza enxerga
Na singela chama que arde
No indômito cavalo que corre
Apenas, corre

Praia da Tainha,
21 de dezembro.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

O surgimento do leão (primeiro rugido)

Às vésperas daquela que talvez seja a competição mais importante do ano, e após duas noites inteiras, praticamente sem dormir, pensando… enfim, não posso mais aguardar uma terceira.

Preciso (com o coração despedaçado!) tomar uma dura decisão: desfazer todas as parcerias firmadas nos últimos meses, recusar todo o apoio, toda a ajuda que me foi tão prontamente oferecida com tanto carinho. Portanto:

@UAItofu, @Veganwaybrasil, @Liferunnersbrasil, @lifewellbody.lab

Sintam-se aliviados, pois vocês estão livres de mim, livres deste fardo. 
Mas por que tem de ser assim? Simples, muito simples: porque eu não os mereço, meus queridos amigos, eu não os mereço. Vocês são bons e eu… eu não sou.

Sei que cometi um grande erro e por isso peço as mais sinceras desculpas aqui, publicamente, pelo tempo e energia que os fiz perder.
Sim, sei que fui eu mesmo quem pediu que confiassem em mim, eu sei. E como eu queria que as coisas pudessem ser diferentes, como acreditei, verdadeiramente, que podiam ser.
Mas não podem. Porque estou sufocando e se não me afastar agora mesmo do amparo (do carinho) de vocês, sufocarei até o fim.

Tentei tanto quanto pude, mas não sei ser o que vocês precisam que eu seja, não sei ser um time, fazer parte de uma equipe, compartilhar, andar junto, não consigo, tropeço… talvez seja de minha própria natureza, ou, quem sabe, eu tenha passado tanto tempo só, isolado, na companhia das pedras, que desaprendi por completo a caminhar lado a lado entre os homens.

Não há outro modo, tenho de escalar a montanha na qual me encontro agora, às vesperas de Cambotas, da mesma forma que escalei o fosso profundo em que me encontrava há meses atrás, antes da Mons - SOZINHO.
E isto não é um querer, é condição, é da natureza de algumas criaturas, não pode ser mudado. Porque a maior e melhor ajuda que alguns necessitam, é ajuda nenhuma. Entendo tudo isso melhor agora.

Não posso representá-los, não posso representar nada nem ninguém, não posso ser um símbolo, um exemplo, uma referência. Nada, porque sou livre. Livre, de uma forma que nem mesmo eu compreendo...

Vocês me deram toda a liberdade possível para trabalhar, e isto ainda assim não foi suficiente, ainda foi um limite, um cercado. Ainda assim me senti domado, escravizado. Senti-me vendendo-me.

"Toda liberdade possível" ainda foi pouco, ainda é pouco! E, no entanto, ninguém poderia ter oferecido mais, entendam isto.
 
O que algumas criaturas - raríssimos cavalos selvagens - necessitam para viver, é de uma amplidão inimaginável, uma vastidão incompreensível… lonjuras, ermos e extremos, no qual a maioria dos animais sucumbiria.

Querem que eu seja bom,
Mas eu não sou.
Querem que faça o bem,
Mas eu não faço.
Querem um mundo melhor,
E eu não quero.
Querem que peça perdão,
Mas eu não peço.
Querem que tenha certeza,
Mas eu não tenho.
Querem que saiba...
Mas eu não sei.

O que me resta, então? Não sei, mas o que quer que seja, sinto, virá do silêncio desta noite solitária e gelada no deserto.
No fim, não foi culpa de ninguém, mas preciso pedir desculpas mesmo assim.
Agora, já posso respirar novamente.
Que venha Cambotas!

…like a wild horse.

Praia da Tainha,
13 de dezembro de 2021.

sábado, 27 de novembro de 2021

DESAFIO RAIZ TAPERA 22K 2021

Hoje, tudo que eu queria era correr e "hikear" fervorosamente pelas trilhas do Morro da Tapera e, ao fim da prova, ter entregue uma performance à altura de todo carinho e acolhimento que recebemos (eu e Lili) por aqui... Queria ter retribuído com um belo poema... digno do trabalho comprometido e apaixonado dos caras que comandam a @raiztrail.

Eu queria voar... 
E mal e mal, pude rastejar. 

A corrida acabou para mim no início da primeira descida, com apenas 1,5k de prova, quando meus quadríceps (precisamente os músculos Vastos Laterais) - isso mesmo, de ambas as pernas e no mesmo instante! - parecem ter levado um choque. Uma contração lancinante, para muito além de uma simples câimbra, e que simplesmente não me permitiu continuar. Não acreditava que aquilo podia estar acontecendo. A prova é linda, o percurso um espetáculo à parte, desenhada sob medida para caras com o meu perfil. E, no entanto, mesmo pleno de vontade e cheio de energia pra gastar, tudo que pude fazer foi ver meus adversários, meus companheiros, sumirem no horizonte, enquanto me contorcia tentando reinar, sem sucesso, sobre meu próprio corpo.

Hoje, eu queria voar... 
E algo disse: NÃO!

Um não imponente, contundente, contra o qual nada pude fazer.

Um "Algo", aparentemente, muito mais poderoso do que isto a que chamo "Eu".

Volto para casa momentaneamente derrotado, triste, frustrado, e que gosto intragável tem esta bebida!

Mas sei que saberei, como bom alquimista, converter bem todo esse amargor no mais doce néctar, tenho tempo. Todo o tempo que este "Algo" me permitir, também aprendi a ter paciência.

 É como diz o ditado: "não tá morto quem peleia". E essa peleia, ainda promete!

Hoje, eu só queria correr, correr…

…like a wild horse.

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@berta.rodrigo, @cristianofetter_, @emersonrcorrales, muito obrigado por tudo gurizada, virei fã da @Raiztrail

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Obs. Estou bem, meus amigos, não foi uma lesão, apenas um problema momentâneo. A princípio nada que atrapalhe os planos para a @Cambotastrailfest.

Praia da Tainha,
27 de Novembro de 2021

segunda-feira, 8 de novembro de 2021

UT ROTA DAS ÁGUAS TRAIL FAST 2021

Neste sábado acordei plebeu e fui dormir Rei!

!!! Rei do Desafio Morro do Cachorro !!!

Sim, eu sei que se trata de uma prova bem específica com um componente técnico elevadíssimo, muito fora do comum, e não de uma corrida de montanha nos moldes convencionais. Mesmo assim, mesmo assim, ninguém me convencerá de que não há motivos de sobra para que eu esteja passando uma temporada nas nuvens…

Vocês sabem quem eu venci para ter o direito de usar essa coroa de louros? 

Ninguém mais, ninguém menos que o melhor corredor de montanha do país! Exatamente, ele: @rogerio.silvestrin

Sinceramente, eu acho que aqui em casa a Lili (minha companheira) tem que me ouvir falar no nome Silvestrin pelo menos umas dez vezes ao dia, dia após dia. É um tal de: "o Silvestrin isso… o Silvestrin aquilo… o Silvestrin tá numa categoria só dele… o Silvestrin é foda…. o Silvestrin… Silvestrin… Silvestrin..."


Enfim, já deu pra entender o quanto eu considero, admiro e respeito esse cara, né? Ele é aquele que puxa a fila, o cara a ser batido, sempre. Ele é, simplesmente, a maior de nossas referências neste esporte em nosso país.

E, neste sábado, após ter sido segundo colocado nos 21k pela manhã, chegando pouco menos de 10 minutos atrás dele, no final da tarde, no Desafio Uphill, tive a honra de vencê-lo…

Por quanto? Qual foi a margem da Vitória?

Foi de apenas um segundo, senhoras e senhores - UM segundo!

Talvez, tenha sido meu mais belo verso até então… escrito com sangue, suor, lágrimas e lama, muita lama!

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Tudo continua sendo conquistado com uma dieta vegetariana, simples e barata, livre de exploração animal.

...like a wild horse

Praia da Tainha,
08 de Novembro de 2021

Enfim, dois poemas a compartilhar...

Estamos de volta, o poeta vive… e está faminto! Por mais surpreendente que me possa parecer, num ano em que todas as previsões do tempo anun...